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Pele amarelada: quando é hora de investigar problemas no fígado?

pele amarelada,

A pele amarelada, conhecida medicamente como icterícia, é um sinal clínico que sempre desperta preocupação e requer avaliação médica adequada. Embora nem sempre indique problemas graves, o amarelamento da pele e dos olhos pode ser o primeiro sinal de diversas condições que afetam o fígado, vesícula biliar ou sistema hematológico.

Compreender quando a pele amarelada indica necessidade de investigação hepática é fundamental para o diagnóstico precoce e tratamento adequado de condições potencialmente sérias. A icterícia não é uma doença em si, mas sim um sintoma que reflete alterações no metabolismo da bilirrubina.

O que causa a pele amarelada

Metabolismo da bilirrubina

A bilirrubina é um pigmento amarelo produzido durante a quebra normal dos glóbulos vermelhos no organismo. Em condições normais, a bilirrubina é processada pelo fígado e eliminada através da bile. Quando há acúmulo excessivo de bilirrubina no sangue, ocorre o amarelamento característico da pele e mucosas.

O processo normal envolve várias etapas:

  • Produção: quebra dos glóbulos vermelhos no baço;

  • Transporte: ligação à albumina no sangue;

  • Captação: absorção pelas células hepáticas;

  • Conjugação: processamento no fígado;

  • Excreção: eliminação através da bile.

Tipos de icterícia

Icterícia pré-hepática ocorre quando há produção excessiva de bilirrubina devido à destruição aumentada de glóbulos vermelhos, como em anemias hemolíticas.

Icterícia hepática resulta de disfunção das células do fígado, que não conseguem processar adequadamente a bilirrubina. Hepatites, cirrose e outras doenças hepáticas são causas comuns.

Icterícia pós-hepática acontece quando há obstrução do fluxo biliar, impedindo a eliminação normal da bilirrubina. Cálculos biliares e tumores são causas frequentes.

Principais causas hepáticas

Hepatites virais

As hepatites virais (A, B, C, D e E) são causas importantes de icterícia. A hepatite A frequentemente causa icterícia aguda em jovens, enquanto as hepatites B e C podem causar tanto quadros agudos quanto crônicos.

Hepatite A é transmitida por via fecal-oral e geralmente causa doença autolimitada com icterícia proeminente, especialmente em adultos.

Hepatite B pode ser transmitida por via sexual, sanguínea ou vertical (mãe-filho) e pode evoluir para cronicidade em alguns casos.

Hepatite C é frequentemente assintomática na fase aguda, mas pode causar icterícia quando há progressão para cirrose ou insuficiência hepática.

Cirrose hepática

A cirrose representa o estágio final de diversas doenças hepáticas crônicas. A icterícia na cirrose indica comprometimento significativo da função hepática e frequentemente está associada a outras complicações como ascite, varizes esofágicas e encefalopatia hepática.

Hepatite medicamentosa

Medicamentos hepatotóxicos podem causar lesão hepática aguda com icterícia. Paracetamol em doses elevadas, alguns antibióticos, anti-inflamatórios e medicamentos fitoterápicos são causas conhecidas de hepatotoxicidade.

Hepatite alcoólica

O consumo excessivo de álcool pode causar hepatite alcoólica aguda, caracterizada por icterícia, dor abdominal, febre e deterioração da função hepática. Essa condição pode ser fatal se não tratada adequadamente.

Causas não hepáticas importantes

Obstrução biliar

Cálculos na vesícula biliar ou no ducto biliar comum podem causar obstrução do fluxo biliar, resultando em icterícia obstrutiva. Essa condição frequentemente se manifesta com dor abdominal intensa (cólica biliar) e pode complicar com colangite.

Tumores do pâncreas, vesícula biliar ou ductos biliares podem causar obstrução progressiva com icterícia indolor, especialmente em pacientes idosos.

Anemias hemolíticas

Destruição excessiva de glóbulos vermelhos pode sobrecarregar a capacidade do fígado de processar bilirrubina, resultando em icterícia. Anemia falciforme, talassemia e deficiência de G6PD são exemplos de condições hemolíticas.

Síndrome de Gilbert

A síndrome de Gilbert é uma condição genética benigna que afeta o processamento da bilirrubina, causando icterícia leve intermitente, especialmente durante períodos de estresse, jejum ou infecções.

Sinais e sintomas associados

Manifestações da icterícia

A icterícia torna-se visível quando os níveis de bilirrubina no sangue excedem 2-3 mg/dL. O amarelamento é mais facilmente observado na esclera (parte branca dos olhos) e posteriormente na pele.

Sintomas acompanhantes importantes

Sintomas que sugerem doença hepática grave incluem:

  • Dor abdominal no quadrante superior direito;

  • Náuseas e vômitos persistentes;

  • Fadiga extrema e fraqueza;

  • Perda de apetite e peso;

  • Urina escura (cor de coca-cola);

  • Fezes claras ou esbranquiçadas;

  • Coceira intensa (prurido).

Sinais de insuficiência hepática

Manifestações graves que indicam insuficiência hepática incluem:

  • Confusão mental ou alterações comportamentais;

  • Sangramento fácil ou hematomas;

  • Inchaço abdominal (ascite);

  • Inchaço nas pernas e pés;

  • Hálito hepático (odor característico).

Quando investigar o fígado

Icterícia em adultos

Qualquer icterícia em adultos requer investigação médica, especialmente quando acompanhada de outros sintomas. A icterícia isolada em adultos jovens pode sugerir hepatite viral ou síndrome de Gilbert, enquanto em idosos pode indicar obstrução biliar ou malignidade.

Fatores de risco importantes

Situações que aumentam a suspeita de doença hepática incluem:

  • Uso de álcool em excesso;

  • Exposição a hepatites virais (viagens, tatuagens, transfusões);

  • Uso de medicamentos hepatotóxicos;

  • História familiar de doenças hepáticas;

  • Obesidade e síndrome metabólica;

  • Diabetes mellitus.

Icterícia progressiva

Icterícia que piora progressivamente sempre requer investigação urgente, especialmente quando acompanhada de perda de peso, dor abdominal ou alterações nas fezes e urina.

Investigação diagnóstica

Exames laboratoriais iniciais

Exames de sangue fundamentais incluem:

  • Bilirrubinas (total, direta e indireta);

  • Enzimas hepáticas (ALT, AST, fosfatase alcalina, GGT);

  • Função hepática (albumina, tempo de protrombina);

  • Hemograma para avaliar anemia ou hemólise;

  • Sorologias para hepatites virais.

Exames de imagem

Ultrassonografia abdominal é frequentemente o primeiro exame de imagem, permitindo avaliação da estrutura hepática, vesícula biliar e ductos biliares.

Tomografia computadorizada ou ressonância magnética podem ser necessárias para avaliação mais detalhada, especialmente quando há suspeita de tumores ou complicações.

Exames especializados

Colangiopancreatografia (CPRE ou CPRM) pode ser necessária para avaliação detalhada dos ductos biliares quando há suspeita de obstrução.

Biópsia hepática pode ser indicada em casos selecionados para diagnóstico definitivo de doenças hepáticas crônicas.

Tratamento e manejo

Tratamento específico por causa

O tratamento da icterícia varia significativamente dependendo da causa subjacente:

Hepatites virais agudas geralmente requerem apenas tratamento de suporte, com repouso, hidratação adequada e evitar hepatotóxicos.

Obstrução biliar pode requerer procedimentos para desobstrução, como remoção endoscópica de cálculos ou colocação de próteses biliares.

Hepatite medicamentosa requer suspensão imediata do agente causador e tratamento de suporte.

Medidas gerais de suporte

Cuidados gerais importantes incluem:

  • Repouso adequado

  • Hidratação suficiente

  • Dieta leve e de fácil digestão

  • Evitar álcool completamente

  • Suspender medicamentos não essenciais

  • Monitorização regular da função hepática

Tratamento do prurido

Coceira intensa associada à icterícia pode ser tratada com:

  • Anti-histamínicos

  • Colestiramina para reduzir ácidos biliares

  • Cuidados com a pele para evitar lesões por coçadura

Prognóstico e complicações

Fatores prognósticos

O prognóstico da icterícia depende fundamentalmente da causa subjacente. Hepatites virais agudas geralmente têm bom prognóstico, enquanto cirrose avançada ou tumores malignos têm prognóstico mais reservado.

Complicações possíveis

Complicações graves podem incluir:

  • Insuficiência hepática fulminante;

  • Encefalopatia hepática;

  • Sangramento por coagulopatia;

  • Infecções secundárias;

  • Insuficiência renal (síndrome hepatorrenal).

Prevenção

Medidas preventivas gerais

Estratégias de prevenção incluem:

  • Vacinação contra hepatites A e B;

  • Práticas sexuais seguras;

  • Evitar compartilhamento de agulhas ou objetos cortantes;

  • Consumo moderado de álcool;

  • Uso criterioso de medicamentos;

  • Manutenção de peso adequado.

Cuidados com medicamentos

Uso responsável de medicamentos é fundamental:

  • Respeitar doses recomendadas;

  • Evitar automedicação;

  • Informar médicos sobre todos os medicamentos em uso;

  • Monitorizar função hepática quando necessário.

Estilo de vida saudável

Hábitos saudáveis que protegem o fígado:

  • Dieta equilibrada rica em frutas e vegetais;

  • Exercícios físicos regulares;

  • Controle do peso corporal;

  • Evitar exposição a toxinas;

  • Controle de diabetes e outras comorbidades.


A pele amarelada é um sinal clínico importante que sempre requer avaliação médica adequada. Embora nem sempre indique problemas graves, pode ser o primeiro sinal de condições hepáticas significativas que se beneficiam do diagnóstico e tratamento precoces.


A investigação apropriada permite identificar a causa subjacente e instituir tratamento específico, melhorando significativamente o prognóstico. A prevenção através de vacinação, hábitos de vida saudáveis e uso criterioso de medicamentos é fundamental para reduzir o risco de desenvolver doenças que causam icterícia.

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